Mas que bela cartinha
minha vó me escreveu
E-mail, que seja
lhe chamo de carta,
que n'envelope não "cabeu"
Escreveu palavras tão dóceis
que nunca ouvi em tempo algum
Sua cadeira de balanço!
Quem diria?
que um dia inspiraria
o decolar da poesia?
Sua boca nunca me havia feito
um deleite tão perfeito
Que dessas palavras senti
mil floquinhos infantis
E, pela idade, quem imagina?
uma mulher já bem vivida
soprar flores de menina?
Falou dos ipês tão amarelos
que colorem as ruas sujas
E nas calçadas nos ilude
como um sol rente ao chinelo
Aqui não tem ipês
mas tem parques muito verdes
e quiçá um céu azul
Já converso em inglês
mas meus sonhos são com "tu"
E minha avozinha recita
nesta tela mal-dita
as latinas todas elas
E lhes mistura em aquarela
Bailam assim
a francesa com o inglês
e se amam
noutro canto
A italiana e o português
E na espreita o brasileiro
brilhante olhar matreiro
matutando nas vielas
vai roubar-lhes todas elas
E que moderna essa vovó
que toca musicas de amor
um piano faz as teclas
do seu computador
Mas pediu-lhe um login
e isso ela já não sabe
Fechemos essa porta
outro dia ela se abre
Como neto dedicado
cumprirei de prontidão:
Sonhar com os ipês
e voltar pra natação...
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