domingo, 5 de maio de 2013

fluido

Eu falo é da borda da vida
Donde a jovem gengiva
sangra, rachada de sede

A lâmina
de que será feita a vida
Depois que se fatiam
As crenças, as idades

Se cubro ou desnudo
as eternas virgindades

Eu falo é da borda
donde tremulava,
fronteiriça e marcial,
uma bandeira nossa
roubada
que é só sombra no chão

É disso que tento falar

Mas,
como uma seringa
que finca o osso
ficarei no limiar
poise sempre me faltará
a última miligranada

Para enfim me completar




quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Viagem de Ônibus - New York to Washington DC

Passado, presente e futuro

Alguém já fez confissões ao passado?
Num "precisar" extremado
De correr do "resolvo"
Um relógio clicando maldoso

São aquelas pisadas
olhos fechados
não querer ver as ruas
chuvosas
esburacadas

Esse passado é apenas
um olho sem fundo
de inencaráveis veias
Jogado ao infinito
desejo de bobeiras

Nosso olhar se perplexa:
pois até as ferrugens...
até elas já se foram
As dicas não sobraram
Sem faro nem rastro

Um olhar perdido no universo
onde as estrelas se apagaram



segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Pêndulo

As cadências aceleram...
Cresce a batida
nos piques de vida
Quiseram, disseram...
ferver tanto a vida
de jorrar amálgama
apitar a fumaça
e chegar na beira da morte...
E bem rimaria com sorte!
Sendo o medo do azar
a esnobe razão
para não navegar...

Encaro este eterno pêndulo
embalado pelos uivos do tempo
que ora vai ora vem
Ele veio, enrubresci,
mas na volta tudo cessa.
Quando vai, leva as cadências
ao zero e às suas proximidades
à vida e à sua ausência.

Tudo silencia, neblina a cidade
os lábios esticam-se como se para sempre
a dormência se espalha

e eu tenho, desatarrachado,
uma vaga impressão
de que tudo era falso

Até o momento solar
de volver novamente o pêndulo

domingo, 20 de janeiro de 2013

Leitões Modernos

Ignomiosos leitões
Ruminavam meus cabelos...
mas eles se foram
um por um
trocar sedentas opiniões
enquanto meu sangue
borrava o asfalto em rendas

Eu, em alto desmaio
num sonho que tange
apenas de soslaio
inóspitas realidades
aguerria-me para lá ficar
Lá jamais seria pior:

Lá não ressoavam as conclusões
dos ignomiosos leitões
"Se fosse liso solvia melhor"



Acontecia

Nos anos borrados
Eu só tinha pai.

- Essas coisas sempre parecem passados distantes

- Embora nunca acontecessem nem dantes

- Nem nos virgens adiantes

Mas eu só tinha-o
o pai mesmo,
que no nosso ninho discreto...
 girava sua caixa de música
[dos roucos anos vinte]
chiando o lábio secreto
de uma mãe que eu nunca tive...

"Ela jamais deixaria
o seu cabelo ser assim"

[O penteado que ele mesmo nunca cortou]

Então, como uma foto negativa
 Eu via o rêlampago azul dela
C'a mesma sobrancelha tingida
Da diretora trancando minha cela








Dependência

Sou novo

mas,

Não tenho idade

Passarei por todas

[ou por nenhuma]

Depende da morte

E da relatividade


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A obviedade na terra sem consertos

Conheci os homens
Que corriam do calor
inflados de ferro

Esses caras viviam no inverno
Adiando assim o verão

Pois ,
no verão, chove - [pelo menos em Belo Horizonte]
se chover, molha
e se molhar, estraga
e se estragar, fode a............
...a...
...a...



Fode.



Tomara

um caldo escorre do céu
nao parece nenhum mel
parece mais aquelas coisas
que saem do vulcão, queima as moitas

Disse-me um velho
é baba de onça
disse-me um novo
é óleo de moça
disse-me um louco
é o oposto da poça
Me disse um poeta
tomara que chova

Das Diferenças

todas as jovens sao lindas

sem exceção

as velhas, as velhas tem outro tipo de beleza

não são lindas

são profundamente lindas

sabem da brevidade

e da perenidade das coisas

das belezas

das intrínsecas indiferenças

animais

e das pérpetuas

humanas deliquências

em outras palavras

"a eterna juventude"

O poema do anjo


Poemas são livres
por serem poemas
Desalmados de tanta alma
Destratam corações
carentes demais
Que, talvez egoístas
querem versos particulares
Sequestrando amores
a que ninguém pertencem

Mas este poema
é de um anjo,
por convenção, apenas
um anjo sem penas
que não precisa demais
das coisas preciosas
como ouvidos e asas
Escuta bem mais do que deve
E pousa os pés sobre a neve
Descalçados
Assaz cansados
Mas é todo-coração
Todo pulmão e cobertas e lareiras e cadeiras de veludo e teatros chuvosos e canções de ópera
Ele é todo peito, todo pulmão
todo vida
um anjo alucinado
de queda desvairada
Descalço ou de botina apertada.


É o único anjo
que incendeia as asas
e sobe de mãos dadas
ao céu com este marmanjo









quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Série PEQUENEZAS .... Entre elas

Entre as Renas
o meu amor
Jamais seria a tal ridícula
De Nariz Vermelho
A presunçosa aparecida
Chifradora de espelho

Seria aquela tímida, manca
a última, mas tão doce
quanto céu azul de brigadeiro

Ela tropeça na carreira noturna
sem gritar, despenca,
envolta de lágrimas, do silêncio ao mar

Afundaria sonhando
sem soltar bolhas
olhando a saudade
que até das tolas sente

Essa é a minha estrela
fugida, caída. cadente

Série PEQUENEZAS Dos Verdadeiros Amores

As perfeitas são as coisículas
Bem pequenas
que sorriam a vida pequenizando
sorriem por serem poeira cósmica
e é essa a máxima felicidade
no tudo ser nada

Púlpito Moderno




Esquerda, direita
O globo ocular tremita
Rapidamente se esquiva
Teso nas veias,
Fingindo ser de aço
Forjadas com um caldo podre
Que escorre lá da alma

Sentiram os uivos?
Os pingos no além?
Mentes tão líquidas
Que já mostram ser sólida
a mudeza do seu réquiem

São corações torcidos
Pelas mãos cascudas
Do prefeito matemático
que balanga no púlpito moderno
Ameaçador, terror estático
Um orador esperto...

Aqui...

Todos temem e são amantes
...potenciais amantes
Mas ficam a tilintar moedas
Entre as jaulas de pano
No zoológico urbano

E os olhos, sempre girando
Fugindo
Nunca pousando

Fuga Estúpida


Alguém já fez confissões ao passado?
De tanta necessidade
De sumir de um relógio clicante malvado
Como nas ruas ruas chuvosas esbucaradas
Em que fechamos os olhos
pra não ver as pisadas
E perceber, que o passado
É apenas um olho sem fundo
Inencarável
Jogado no infinito desejo de bobeiras
Sem saída, abrimos os nossos olhos pro mundo antigo
Olhar perplexo
Pois as ferrugens,
Até elas já se foram
Não sobraram
Nem faro nem rastro

É um olhar perdido num universo
Onde as estrelas se apagaram

sábado, 12 de janeiro de 2013

É samba com o pé direito


O trem samba nos trilhos
mas samba um sorriso torto
e se sorriso aquilo é...

Tal vagão ensina os filhos
Rangendo o samba do povo
que vive a sambar com fé

pro marinho, pros caudilhos
que nunca atiram no rosto
quem lá cansa perde o pé!

Bocudo universal serafim
Apregoa cheio de fama
"A recompensa dorme no fim!"

Mas presa na coleira quente
a môça samba na cama
e o brasil da nossa gente
ainda samba na lama

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Fósforos

Risco fósforos o dia inteiro
diríamos
um belo dum riscador.

Mas nada de agitador
Não vejo fogueiras,
aquecedor...

A cidade esfria,
os bueiros entupidos de palitos usados...

Sentamos todos no banquete da ruas
tilintando de frio

E em homenagem à ignorância
riscamos fósforos e jantamos carvões cinzas

E todas as lareiras queimam escondidas de nós.
Onde o inverno é macio
E nenhum fósforo se faz necessário.



Sinceridade

Meu poema é uma conversa contigo
Nada é reescrito
Às favas com os remendos
Eu trato aqui é de fluxos
como rios ventos soluços

Ele é meu extinto discurso
Tão perdido em seu ouvido
como uma fêmea em suicídio

Seria injusto, sabe,
Eu poder arrepender
Medir instintos
Se minha intenção for vaga
ou secretas confissões por detrás do meu umbigo

Eu seria até seu inimigo
se lhe dissesse "tralalás"
que ensaiei após
o pôr do sol na ponte
nadar do rio à foz
um passeio de barco a sós
um prato de macarrão borrando a cara
e enfim gritar: "o ó do borogodó!"

Seria medíocre até
Dizer-lhe todas as inspirações
 belamente calculadas
E esperar a tua resposta imediata
"E aí, quem cê é?"

Você iria encarar
apenas as minhas vistas sedentas
ofegando os sonhos nas ventas
Lhe indagando o que pensas
Como uma pérola negra
presa num altar

Não sei se você diria alguma coisa
Acho que não diria nada







quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Resolução

A garota levanta uma perna
singela

O garoto espia uma gruta
é muda

O amor se consuma no fogo
resolvo

Reveillon

Nesse reveillon nauseabundo
Mordi a cabeça do mundo
Fervendo a baba, penetrando
nas perigosas rachaduras
Provando o miraculoso
sabor das lavas escondidas
O espirro nervoso dos vulcões,
das bestas, dos miseráveis canhões
Bebendo todos os mares
O gosto verde das matas

Mas nem cócegas fiz...

A digestão anunciou
que os próximos segundos
Seriam de pura amagura...
O vadio gosto de queimado...
Onde nem carinho de vó adianta...


Aí que a baba secou,
Aí mundo era só carvão queimado...
Aí eu vi e vivi o perder do fogo...
Sendo besta também, eu só sabia morder!
e só morderia as cinzas
em cada ano novo.