terça-feira, 25 de setembro de 2012

Quebrou

Quando a ponta do lápis quebra
o garoto suspira seu verso
sem se preocupar com seu nexo

Mas da poesia surge uma quimera!
três cabeças encaixadas
e o busto da donzela ,
que ele vira no jornal,
as quatro belas asas,
e um bom ramo caudal.

O mago na montaria
que de barbas brancas sorria
lhe põe na garupa
para dar voltas na lua
e fazer um cafuné
na virgem e na ursa
menor.








Mulher do encanto

Tua perna rotunda
emancipada do amor,
brinca c'os bobos.
Mas no sumo torpor,
diz Nananinanão!
Assim, mulher
descende os anjos
e derruba um falcão!

Mas lhe enfada o escrúpulo,
já mui convencido,
flagar o meu peito
não dar nenhum pulo!

Lá vem

As sórdidas visões
nem me parecem a verdade
do mais alto teor
de inevitabilidade

Vejo a bengala
marcar nos seus passos
os sopros de vida
do meu marca-passo

Todo dia é dia de vida

Nos céus azuis os ventos brincam
a modelar
alvos algodões sortidos
E o cidadão na sua ida
come seus pães
e esquece o nono sentido
que fareja o perfume da vida

E começa

As noites caem revoltas
puxando sua mão
que num tango argentino
lhe enrubresce dando voltas
Deixa o menino
dar logo a cara a tapa
e deixar sua virgindade
revelar-lhe a idade



O germinar na noite

Pois são nessas noites quentes
que meu dedo tão carente
pede cordas de viola
mas tem gente que se amola...
Bem podiam esses sonhos,
que passeam nos vizinhos,
lhes tamparem os ouvidos!

Ah, isso eu gostaria,
me proteger do meu roncar!
Eu jamais acordaria
bem na hora de beijar...

É pena que não vive
esta doce ilusão
Engasgado me contive
fui calar meu violão...

Minha música me vaia
abortei sua gravidez
Foi deixar morrer na praia
logo o homem que lhe fez!

A melodia encaixava
cada nota com astúcia!
Tal qual as pelúcias
que a vovó costurava.

Fico então a dedilhar
a guitarra invisível
só escuto a geladeira
Que lhe queime o fusível!
Ela fica aqui roncando,
a fingir-se esforçando
Mas sei que a bruxa mente
A cerveja só sai quente!

E também minha barriga
me trai e lhe imita
Ronca a tola atraída
pelo cheiro que restou
da panela já vazia.


sábado, 22 de setembro de 2012

Coceira

"Porque coças a cabeça amigo?
tem piolhos ou carrapicho?
Ou então nenhum dos dois...
Quem então lhe pinica?
um amor que não combina?"

"Oras, não me olhas nem escutas
assim me deixa aflito!
O que te afliges? Eu não minto,
mas agora me assusta!"

"Teus olhos nem são teus
neste vil metrô lotado
Não achou o que perdeu
ou estás engaiolado?"

"Seu olhar deitou no chão,
seus dedos cavam fundo
Quem controla a sua mão
não se encontra neste mundo!"

"Vem amigo, come o pão
e deixe que eu lhe acuda.
Não me importa se é suja,
diz qual é tua estação!"

-Mas, oh, que náuse amarga
 ao tocar o homem frio
Aquele torto era
meu reflexo no vidro...-





Minha quinta série

Já se foi o amor
e a minha quinta série
O novelo de lã acabou
agora que o frio chegou

E que susto levei
tardei demais a vê-lo
por ver só a minha lei
e o que vinha do espelho

........

Só olhando reto em frente
amestrado na corrente
Que no girar do ponteiro
enrolou-me por inteiro

E muito menos senti frio
dormiram os calafrios
Meu coração ofegou
definhou o seu vermelho
Está morto, preto e seco

.......

Sem ninguém pra me esquentar
e o coração pra me agitar
Fico teso a congelar
Com os dedos duros
as faces azuis
fiz do frio o meu lar

Já não vivo sou estátua
me restou apenas casca
toda oca e rachada
Enfeiando a paisagem
dos amantes em viagem

Nas saudades eu procuro
a bolorenta lembrança
do amor da minha infância
o amor que não me fere
lá da minha quinta série
Dos meus olhos bem corados
o meu coração na boca
meus suspiros tão cantados
e a minha ânsia louca

Se o amor me fosse eterno
tal seria o mais sincero
O primeiro de um menino
sem tampar com lenço fino

E cale-se o doutor
que insiste em dizer
que por falta de amor
ninguém nunca vai morrer!



O negro que falava sozinho

O que enxergas homem
que a tantas conversa sozinho?
Porque teus olhos vidrados
refugiam-se no além?

Esses olhos abertos
vagueam no vento
Meu palpite está certo
que choras por dentro?

De que fala este negro
que ninguém responde?
estão todos com medo
que lhes envergonhe?

Erguendo os braços questiona os humanos
Que baixam os olhos e apertam os passos

Porque é maluco quem fala sozinho
e não a menina que infla o peitinho?

Ele não as quer, moedas de prata
Veja nos olhos! Um abraço lhe basta!

Não entendo o inglês
do lamúrio arrastado
Mas palpito outra vez
presse pobre-diabo

Esta alma que uiva
é a voz do passado
que pergunta da tumba
porque fora escravo...

Manhãs com oito anos

Nas manhãs sonolentas
eu tateava as cortinas
com as palmas lentas
procurava ver o dia
e entre as folhas verdes
flagar o céu azul
sentindo o fresco flerte
dos ventos lá do sul

Os bem-te-vis empoleirados
e seus peitos amarelos
Sempre atenciosos
e sempre tão belos

Me diziam bem formosos
como se o único a ser olhado
fosse eu a despertar
De olhos embargados
piscando enevoados
procurando o uniforme

Me tiravam dos meus sonhos
dedurando aos alaridos
o meu lento esconderijo
"Bem-te-vi! Bem-te-vi!"

Se não era a mamãe
me chamando de benzinho
poderia então ser quem,
senão os passarinhos?





sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Esconderijo Noturno

De noite em noite
Me recolho aos farelos
Nessa Iorque tão distante
No meu esconderijo singelo

Meus pés não se cansam
e jamais habituam
A todo escuro tatear
uns degraus pra escalar

A escadinha bem branca
dos degraus emborrachados
A carregar-me o tato
para o macio regalo

E daqui de cima eu fico
espiando o alarido
das ruas esbaforidas
esperando nos lençóis
vir o cheiro da comida

E essa altura me convence
de cada loucura !
Uma rede de marujo
uma nave, aventura !

E num cesto improvisado
ao meu alcance guardo
Livros a me entreter
e um lápis de escrever

Se pudesse eu passava
minha vida neste bote
E num passa de mágica
velejava pela Iorque

De comida nem preciso
só me falta um penico
Comer sonhos já me basta
num instante sou pirata!

É tão bom assim ficar
aventuras a passar
muito mais coloridas
que o metrô sem as meninas

Se ao menos surgisse
neste beliche nas nuvens
um escorregador vermelho,
um sorriso o dia inteiro!

E é tão chato descer
que por aqui mesmo eu fico
Meio-dia é muito cedo
pra quem navega o sono inteiro!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Outono em New York

Os passos requebram as folhas
e que saudade já me dão
os galhos verdes do verão

As que caem por lá ficam
"volver!" - não me escutam
Dormem sossegadas
até a próxima estação

O outono traz os seus tons
laranjas e amarelos
que anunciam a nudez
o inverno quer sua vez

Não tem nenhum problema
deixa o ano que se emenda
Pois nunca abro mão
de rever o meu verão


Paciência jovem poeta

Pesca mudo a poesia
paciência que ela fisga
No tormento ela foge
é a paz qu'ela aprecia

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Noite de Nova Iorque

Te barraram na boate menina
quem e você?
Se sua carteira é fina?
Rebola e faz sua rima
e se entrega à mercê
desses gigantes gozadores
bons juizes das suas dores
que escolhem se sua pele
brilha bem e paga o frete

O seu tênis colorido
não se encaixa neste piso
que nem mesmo piso é
parece brasa rosa
que já queima o meu pé
de anônimo mortal
um qualquer homem normal

Mas tem que ser bem conhecido
ter na lista o apelido
pro promoter ter certeza
que tua grife é francesa
E se for realmente
já mostra o seu dente
Já que andas por aí
sem levar o pedigree

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Só saibas que nada sabes

Tu não és
o filho prodígio
que traz as novidades
nunca ditas por litígio

O que perguntas
já foi respondido
há milênios pelos sábios
nos sarcófagos egípcios

As andorinhas que outrora
esbanjavam ser aladas
Há muito enchem os olhos
e já foram invejadas

Aprenda então calado
e escolha seu lugar
e escute sem teimar
as vozes dos cansados

Aproveita sua alminha
que ainda tens a vida
tens amor para cantar
e deitar as raparigas

Esqueça as novidades
maus agouros e as bem vistas
se tivesse mais idade
cansarias de ouví-las

É melhor entender
que o entender não é teu
Suas ideias não são suas
e muito menos são astutas

As colunas brancas gregas
e as falanges de alexandre
viram seus filósofos 
morrer sem responder
que só foram calados
após bem enterrados

Então sem angústia
viva o absurdo
E veja que a hóstia
alimenta um mundo turvo

Responder pra quê?
se no final vamos morrer
A paz lhe abraçará
quando enfim tu desistir 
de caçar-lhe o alvará
e aprender a não saber
e a amar e a esperar










segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Dos homens e suas qualidades e defeitos

O soberano senso comum diz que todos os homens tem suas qualidades e seus defeitos. Nenhum é feito só de um ou de outro. Nenhum homem - trato por homem todos os seres humanos, e não sou machista,é força do hábito - é perfeito em seus atributos, muito menos detestável em ausência dos mesmos. O que me eferveceu essa questão nas entranhas foi o questionamento quanto aos defeitos e às qualidades das personalidades dos homens. Exite uma qualidade que não traga um defeito? Ou melhor, uma característica que não traga seu lado positivo e o seu lado negativo, contrabalanceados? É díficil determinar o que é positivo e o que negativo numa personalidade. O modo de ser de uma pessoa pode ser tanto admirado quanto detestado pelos demais componentes da roda. E, por outro lado, determinada característica pode trazer desgostos ou benefícios para o sujeiro que a carrega na descrição. Digo tudo isso retirando de cena as transformações pelas quais as pessoas, sim, passam. Além, acho pertinente acrescentar, do ponto de vista e da relatividade abstrata desses conceitos.
Por exemplo, um homem extrovertido, de presença. Ele pode cooptar a atenção das pessoas e ser carismático, o que o ajudaria em várias situações de interação social. Além do mais, ele poderia ser bem visto pelos demais, agradável, alguém que anima os companheiros. Por outro lado, ele pode se ver só, por criar interações que não passam da superficialidade momentânea da diversão, não conseguindo preencher vazios existenciais, ou outra carência interna. Ele também pode tornar-se desagradável em certas situações reservadas, ou caso seja muito exagerado. Pode também atrair atenções maliciosas ou criar falsas amizades.
Falo de situações realmente palpáveis. Nada de extravagâncias espirituosas ou filosóficas. Nada de teórico ou grandiosamente conclusivo. Essa reflexão banal que fiz acima é apenas uma elucidação da inconsistência dos termos "qualidade" e "defeito". São generalizações que fazemos das pessoas e de nós mesmos que não passam de preconceitos e idealizações que o próprio homem cria. Defeitos e qualidades não são um consenso geral de classificação humana. Isso seria, primeiramente, inumano. O ser humano tem, claro, suas características de personalidade, mas elas não determinam a essência do homem, ou seja, para ser bem direto e seco, o resultado das mesmas, seja positivo ou negativo para a primeira e para a terceira pessoa presente. Todas essas palavras parecem bem maquinais e rudes tratando-se de gente, mas são apenas abstrações para preparar um palquinho simples para minha singela e óbvia reflexão. Não passam de uma contextualização simplista, mas que logo adquirirá seu sentido.
 Rapidamente fujo dessa teia de confusões quase pedagógicas ou até mesmo dessa imagem pretenciosa que maquio nessas palavras minhas. Sim, seria demais tentar colocar sob o controle das minhas palavras  débeis tanta indeterminação humana, tentar medir um objeto tão gasoso.
 Enfim, o que determina, na minha opinião, a positividade ou a negatividade que emana um ser humano é o próprio modo como ele encara esse emaranhado de características. A existência dessa autocrítica pessoal pode ser, ela própria uma característica psicológica e, consequentemente da personalidade individual. Mas o que reflito, é que essa característica é sumamente envolvedora das outras, justamente por ser o julgamento interno delas. É como o próprio homem encara o "eu". Se ele encara seu rol descritivo, ou que ele imagina ser o seu rol descritivo, como qualidade, ele será uma qualidade. Se ele encara como defeito, será um defeito. E esse auto-julgamento só existe no segundo caso. Porque se julgaria um inocente? Apenas a caracteristica ruim, literalmente, apenas o réu, ou aquele que é acusado como tal que é julgado. Um homem que ignora as acusações a si próprio não tem porque criticar a si próprio e, indo de encontro com as nossas reflexões anteriores, se o homem não critica suas características, julgando-as defeituosas, os defeitos não existem. Ou seja, o lado negativo, que existe de fato em todas as particularidades do ser, é sumamente apagado. Assim apenas as pétalas da rosa são vistas e admiradas. Os espinhos deixam de existir, tornam-se ilusão, uma tormenta que já passou. Basta o homem compreender e aceitar quem ele é para que brilhe como uma estrela ao invés de sugar tudo para sua escuridão, como fazem os buracos negros, frutos das estrelas mortas. A paz abraça aquele que supera seu ego, este ente que vive querendo aparecer mas nunca consegue, pois sempre sente-se inferior e tenta mostrar-se superior, ao invés de aceitar o pé de igualdade que vive o ser humano com seus semelhantes, devido à dualidade de seu ser. Essa dualidade é justamente o equilíbrio do bom e do mau, nenhuma característica e melhor do que a outra, como dissemos antes, tudo tem seu contra-balanço. O que importa realmente é para qual lado das coisas reservamos nosso olhar. O positivo ou o negativo. É deste olhar, deste direcionamento do andar de cada um, do qual é exalada sua energia, positiva ou negativa. O olhar do homem reflete aquilo que ele está a mirar, admirar ou a preocupar-se com.

BELO HORIZONTE

Bom, eu sou uma coisa que eu abomino: preconceituoso. Sim tenho preconceito contra a nossa Câmara de Vereadores (por favor, filhas da puta, não venham desmoralizar o que eu falei por eu usar termos comuns, eu não sei qual é a porra do nome oficial: Vereadores, Bandidos, Legais, Lobistas, Legisladores, Homens de fé, Latifundiários Urbanos, Cheiradores de Pó, Farinheiros, Legitimamente eleitos... Temos de tudo lá, creio eu, por isso não dá pra pôr tudo no mesmo saco.
Mas, por mais que eu não viva a politicagem deste meio, algo me cheira mal.... Falaram demais do aumento dos salários dos legisladores, mas poucas pessoas sabem quais vereadores defenderam tal mudança... Nem sequer seus argumentos... O que é básico para qualquer crítica válida.
Pois bem, à partir daqui eu delongaria uns 10 parágrafos, e dias, porque basta jogar no google, a nossa imperial enciclopédia, que não sei como até hoje não foi censurada, para descobrir fundos e mundos sobre a trupe que alegra o programa eleitoral,com suas frases que parecem ter sido retiradas daqueles livrinhos toscos de anedotas. Mas vou pular os argumentos beligerantes e dizer que o burguês goza na nossa cara de mês em mês.... E a arte do samba da madrasta é sobre aquele que pertence à nata da sujeira deste circo que chamam de câmara.
Depois de tanto bloqueio e sacanagem, o povo pôde ouvir alguma coisa que presta. Faz pensar o caboclo, o mulato e o giramundo. O mineiro de Santa Tereza. Chupa o picolé da propaganda, sem saber que eles te ouvem da varanda, Têm piloto de avião e treinam o seu cão. Pra pegar quem fala demais dando tiro por detrás.
Não tenho provas nem argumentos. Tenho apenas sentimentos. Consciência do absurdo de tal mundo,
no qual me quedo mudo. Critiquem a minha ignorância, mas, lembrem-se, quem pisa na lama deixa rastro.
E quem engana mineiro se f...
Ok, eu queria falar tanta coisa que eu ouço pelos submundos de BH. Em cada esquina há alguém que sabe algum caso de um GRANDE ah se tudo viesse aos jornais, o maior problema do Brasil seria em alterar ou não as penas para crimes hediondos, pois sem a pena de morte, as cadeias transbordariam...Da cabeça do leviatã lesgislativo é de que mais se ouve falar. Já ouvi cada coisa, mas não dá pra afirmar nada né, hoje em dia eu posso ser processado [ou assassinado] por afirmar que um cara é ladrão [e assassino] sem ter achado a maçã que ele roubou... Mesmo que haja a possibilidade dele ter comido ela. Ou ter pagado alguém legal para escondê-la.
Eu queria ser mais irônico, mas não consigo.

Poema deveras miserável

Se demasiado humano
é o amor
deveras miserável
é sua dor

E nestes versos padece a verdade
pois não recito o amável
regalar da falsidade


Então não peças meu bem
já é tarde
A tranca pesada
protege nossa casa
Pois a rua esconde perigos
que você não crê, não vê
Desculpe se não consigo
lhe deixar viver como vivo

Pois se o mundo me tem
não quero que a tenha
Ele pode lhe encantar
e você jamais voltar

Todos temos medo,
e eu tenho os meus
medo daquilo que faz
eu não lhe ter mais

Medo que sejas livre
deste amor teu
que, ao menos um dia
eu posso dizer que tive

Se liberdade só combina
com um amor de concumbina
Ela jamais se entrelaça
num só homem que lhe abraça

Sim tenho coragem
de admitir tal mediocridade
que seja ao menos uma virtude
abrir-lhe isso amiúde

Pois se lhe devoto com fervor
cada pétala desta flor
Também careço assim
do teu vício para mim

E, se é miserável
este jogo de um só lado
Nunca, jamais,
deixará de ser amor
nem deixará de inspirar
as rosas do cantor
os lençóis a ambientar
a atriz e o seu ator









quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Carta à Minas

Mas que bela cartinha
minha vó me escreveu
E-mail, que seja
lhe chamo de carta,
que n'envelope não "cabeu"

Escreveu palavras tão dóceis
que nunca ouvi em tempo algum
Sua cadeira de balanço!
Quem diria?
que um dia inspiraria
o decolar da poesia?

Sua boca nunca me havia feito
um deleite tão perfeito
Que dessas palavras senti
mil floquinhos infantis

E, pela idade, quem imagina?
uma mulher já bem vivida
soprar flores de menina?

Falou dos ipês tão amarelos
que colorem as ruas sujas
E nas calçadas nos ilude
como um sol rente ao chinelo

Aqui não tem ipês
mas tem parques muito verdes
e quiçá um céu azul
Já converso em inglês
mas meus sonhos são com "tu"

E minha avozinha recita
nesta tela mal-dita
as latinas todas elas
E lhes mistura em aquarela


Bailam assim
a francesa com o inglês
e se amam
noutro canto
A italiana e o português

E na espreita o brasileiro
brilhante olhar matreiro
matutando nas vielas
vai roubar-lhes todas elas

E que moderna essa vovó
que toca musicas de amor
um piano faz as teclas
do seu computador

Mas pediu-lhe um login
e isso ela já não sabe
Fechemos essa porta
outro dia ela se abre

Como neto dedicado
cumprirei de prontidão:
Sonhar com os ipês
e voltar pra natação...









terça-feira, 11 de setembro de 2012

Os Vovôs endomingados e o forasteiro disfarçado

No domingo, sorriem as alfaces de saias
E as laranjas ensolaradas
de bagas cítricas perfumadas
que enrolam as encantadas
fungadas da criançada

Que lambe os beiços rosados
de mãos bem dadas, 
com os vovôs endomingados
A sortearem pães-de-queijo
Nas boinas enxadrezadas

Por detrás das lentes convexas
Eu ronrono lá por perto
E fingindo ter meu neto
Entabulo a sós conversas

Mas já se viu vovô sem ruga?
Vovô rebelde que prefere
um cigarro a uma fruta?
Sem convite nem rumo:
por isso sou gatuno
Que só busca inspiração
prum poema dum cartão...







Já lestes

Por mais que eu prometa,
descumpro
Por mais que eu nade,
afundo
Por mais que eu grite,
eu sumo
Por mais que eu esconda,
meu mundo.


domingo, 9 de setembro de 2012

Devaneio: As praias da infância

As praias da infância eram as melhores, a nossa pequenez era mais intensa, diante dos areais e das ondas mágicas... Sentíamos as praias com todo nosso espírito, aspirávamos os bons cheiros, gracejávamos com as brisas tímidas e a água, sim, ela era a melhor de todas as águas do mundo. Só pela sua vida própria denunciada em ondas emotivas, pelo seu profundo enigma que balança entre tenebroso e magnífico. Uma dualidade que nos encanta ambiguamente, uma união ininteligível, impensável perigo tão atraente, belo.
Enfim, essas praias foram aquelas que aproveitamos de verdade sem preocupar com o passado nem o futuro. Éramos só presente, só amores, ingênuas despreocupações... Se os picolés eram caros ou tinham muito açúcar, se as areias iam sujar o carro ou a tarde me carregar, para longe do trabalho, sedutora irresponsável. Nossa única responsabilidade era não ter responsabilidade, era esquecer as estradas de asfaltao da viagem, e ser todo sol, verão, mar. E por isso, por ser a fome a nossa única distração, a praia nos tinha em seu seio por inteiros. Éramos felizes, éramos infatis, os castelinhos valiam mais que os apartamentos dourados das orlas. E as palmeiras eram mais atraentes que as mulheres vaidosas...
A sensação dos pés afundando, ah, era a melhor, na areia seca ou fofamente acomodada no fundo das águas, sempre macia. E se fossem duras, oras, eram as longas tábuas de um salão de carnaval ou o cimento colorido de uma quadra de futebol, ou, tão bom quanto, de frescobol. A sensação dos pés afundando eram, sim, uma sensação muito melhor do que receber montantes de grana, muito melhor do que comprar uma mulher falsa na cama. Aliás, isso nunca será melhor.
O que as praias da infância me lembram? Surgem em fotos antigas, pouco nítidas. O amarelo e o azul se confudem. Sol e céu. Areia e mar. O verde faz algumas sombras frescas e nos lembra um abrigo e o germinar da vida, a sensação de que não estamos sozinhos e sempre haverá água fresca e aconchego.
Reconforta haver palmeiras atrás de nós, afinal, elas estão vivas como nós diante de toda aquela areia e água infinitos.
Lembro-me da massagem quente que a areia fazia quando eu enterrava meus pés nela, numa brincadeira inconsciente e reflexiva. Eu moldava e amaciava a areia com meus pés e observava as formas e o comportamento daqueles grãos, sem nem estar atento àquilo. Apenas olhava para baixo enxergando, nas minhas peripécias, visões antigas e pensamentos distantes, que eram projetados naquele amarelo claro. Ficava ali, sentindo as texturas. Secas ou molhadas, duras ou macias, lisasou ásperas, fofas ou granulosas, esvoaçantes ou consistentes. Haviam infinitas sensações.
Eu gostava das ondas médias. As ondas estavam ali para lembrar-nos da brandura e grandiosidade daquelas águas, afirmando ser realmente o mar que lambiscava o litoral graciosamente, muito aquém da sua capacidade destrutiva, ele escondia a sua força humildemente. As ondas médias nos davam a certeza de que era o mar vivo que ruminava ali em frente. As lagoas não têm as vívidas e pacíficas ondas médias - muito menos as grandes e agressivas - , as lagoas são mortas e fechadas. As ondas mostravam que aquele horizonte não tinha fim, era a liberdade em si. A absoluta ausência de limites. O mar aberto trazia essa ideia de uma eterna deriva, um abismo infinito que engole nossa vista ao chegarmos na sua beiradinha.
Eu também gostava de olhar para o limite do oceano. Uma linha linda, mas dura em sua perenidade. Um fim liso e naturalmente perfeito. Eu buscava com meus olhinhos viajantes qualquer novidade distoante que surgisse nas longíncuas brumas azuis e foscas da infinitude intocável do oceano. Qualquer ilhota ou barquinho venturoso. Quando achava algo, eu assistia esse objeto incessantemente, temendo perder de vista o trêmulo pontinho. Nesses momentos eu adormecia para os vendedores de picolés com suas vozes altas. Esquecia do meu pai que lia o jornal e tomava sua cerveja envolta em isopor, para que não esquentasse no calor praiano. Eram tempos em que eu odiava aquele líquido loiro espumante, não entendia seu encanto tão amargo. Enquanto perdia-me ao longe, minha mãe tomava água de côco sob o sol forte e meu irmão pequenino brincava sereno, sentado na areia, distanciado em seu mundo 2 anos mais infantil que o meu. Geralmente minha boca ficava solta, abrindo-se, e minhas pálpebras pediam para baixo, dando um aspecto vago e sonso para meu olhar flutuante. Enquanto isso o vento soprava os flocos de areia que repousavam na minha pele jovem. O forte calor misturava-se com o frescor aquático da brisa marítima, que combinava com os ruídos das ondas preguiçosas que tombavam repetidas vezes.
Nessa época, cujas lembranças empoeiradas aparecem como fotografias antigas e de cores desbotadas, eu não distraia meus olhares nos corpos torneados que desfilavam nas prais, besuntados pelos bronzeadores. Muito menos usava bermuda, uma mania da rebeldia adolescente, e sim me desinibia com calções coloridos. Lembro-me também de uma vez que fui à praia, num calor infernal, enfurnado dos pés à cabeça numa fantasia totalmente preta do Batman.
Voltando ao meu querido horizonte, eu me deliciava com o deitar do céu no mar. Ele, sabidamente maior e mais poderoso que o nosso oceano meramente terrestre, abraçava facilmente o nosso mundinho. Embora imponente e, às vezes enfurecido, o céu mantinha-se paciente e respeitoso conosco, sempre concedendo sua magnificência azul às nossas paisagens terrenas e finitas. Este mesmo céu, indiferente à sua idade e ao seu tamanho, se aconchegava no colo do mar e deitava, sonolento, por lá mesmo, enquanto a noite caía. E, assim, o jovem e subordinado mar lhe recebia, lhe afagava com o crepitar das suas águas e imitava o azul celeste como um espelho admirado.
Essa visão me absorvia por grande parte dos meus dias passados na praia, durante a minha infância.
O azul brumoso ao longe me lembrava da distância que me separava do horizonte quando eu me banhava em águas mais profundas, o que também não significava muitos centímetros para meu corpinho encurtado. Tamanha distância me fazia questionar como podia ser aquilo tudo transponível pelos peixes e pelos pássaros, e até mesmo por nós, animais do chão seco e sem penas. Antes de me acostumar com a temperatura fresca da água, cada elevar das ondas me concedia calafrios, um respirar profundo e me fazia arquear o corpo fazendo caretas. Mesmo assim, era impossível haver hesitação, as ondas vinham por vontade própria, sem se preocupar se estávamos prontos ou não, desafiando-nos. Isso atiçava a minha imaginação fértil de um pequeno desbravador, como se encarasse o desafio da mãe-natureza corajosamente.
Eu era assim, um pequeno soldadinho que se abobava com os horizontes e seus mistérios.
Ao voltar para a sombra do guarda-sol, não havia nada melhor que empadas e refrigerantes gelados. Que me concediam sabores melhores, que iam além do sal marítimo. É claro que eu também brincava na areia e alugava o ouvido dos meus pais com minhas vontades mimadas. Mas, na hora de dormir, quando eu me recordava do dia que se passara, surgia em minha imaginação apenas o majestoso encontro, em meio às brumas azuladas, daquelas águas mais distantes com o formoso céu, o pai da terra.

Porque confiamos tanto na sanidade alheia?

Ideias:
-Escrever um devaneio sobre o assunto, com vinho seria bom.
fazer um conto metaforizando essa situação louca, imaginando os pensamentos loucos dos interlocutores, mas que termina bem.
-Outro com as pessoas não confiando na sanidade alheia
-Um que simboliza o perigo dessa confiança, entre pessoas muito próximas, um  conto pesadíssimo.
-O final alternativo de Balzac.

Nova ideia

Devaneio da Liberdade

domingo, 2 de setembro de 2012

New york subway

Túnel turvo
branco e escuro
lugar das esperas
tédio e mazelas

Sinto do fundo
a ventania crescente
empurrada de longe
pela férrea serpente

No fim da caverna
ardem seus olhos
vem bem amarelos
coçando minha perna

Ela pára e me acolhe 
vem seu bafo gelado
e o ar quente torna
a ser empurrado

Trocaram os gases
e a carreira já torna
A fazer as pazes
c'a girante roda

Na noit dos trens vazios
cada um s'encolhe sozinho
Miúdo no lugarzinho
sem soltar nenhum pio

Mas digo oras
new york tem molas
pr'empurrar nossa mente
pra fora da gente

Ao lado a chinesa
se alonga e arqueia
Estende as pernas
e sobe as meias

Ao fundo o careca
com seus tênis verdes
Finge de atleta
que guia mercedes

No meio um ruivasso
faz barras chapado
É graça pro amigo
soluçando um riso

Um barbado ao lado
me ensina o trajeto
Tem farelos no terno
e boceja chapado

N'outro lado uma negra
de bunda saliente
Num curto caliente
me arma sua feira

Já ia falar
do velho calado
de olhar transtornado
Mas ouço soar
o alerta chiado

Parece vitrola
e me põe a cartola
Que comece o baile
e arda minha face
Mas o moço alertou-me
chegou na catorze...




sábado, 1 de setembro de 2012

Rancor guardado


Escrevo com pesar
afinal lhe tenho amor velado
Mas o teu passado
sim vai perdurar

Seu Kennedy por ódio ao vermelho
fez o da nossa gente
Marcar nosso pêlo
tal qual ferro quente

Aqui na américa
dos carrosséis dourados
A terra da ética
e da miséria do vil madraço

As fechaduras enganam
o migrante banana
Que vem só por vir
ver os prédios
e a fêmea americana

Mas têm-no por um peralta
que entra sem bater
Um seco que só quer água
sentar, cagar e beber

É virgindade não saber
que tanta música nessa Iorque
Não seduz o bem querer
que só quer fuçar o lote

O egoísmo nunca quis s'expôr
nem mesmo permite
que sobrepuje o amor
mas me perdoe o azemite
o teu já tem bolor

Se me tripudia
por favor, fazes direito
Sei pensar, não se ria
podes ser ruim,
mas faça bem feito

Se sua fechadura invertida
 que pelo outro lado gira
Eu já venci e me viro:
com meu nariz latino
do teu ar eu respiro