Voamos nus, numa só direção
Num redemoinho gigante
Que converge, lentamente,
agitado em ondas de explosões
pro centro das nossas vontades
Começamos brandos
planando sem pressa
em ares aquém da nossa imaginação
descansando em nuvens de sonhos
com os corpos criando o verão
bem distantezinhos
acalmando na delicadeza
e mistificando a nossa beleza
Essa calma vai só se ajuntando
E, no centro, se acumulando
Vem mais e mais calor
E, à nossa vista, aparece o destino
a fabulosa chegada
A nossa vontade, viaja,
e vai ganhando mais vida
sim, vivemos mais
queremos mais.
E a vontade traz
o olhar da tua boca imensa
e ela vem
sentimos cada vez mais a sua presença
dentro de nós, coçando o peito
e fora, puxando nosso coração de ferro para fora da garganta
como um ímã de carne
A iminência da chegada
O medo do despenhadeiro
A derradeira amada
Se juntam
Já não há calma
O redemoinho já nos engoliu por completo
Estamos apenas seguindo o fluxo
O maremoto alucinado
que joga nossos corpos possuídos
pela própria vontade,
que, após solta,
pôs-se a alimentar-se
a crescer e agigantar-se
agora ela nos domina
Nos aperta na ferida
As ondas aceleram
Não há mais nada atrás
Vemos apenas um centro que puxa
cada vez mais.
Quando mais perto, mais forte somos tragados
Num movimento frenético, despencamos em disparada
Para aquela acumulação totalizante
Tudo que vibrava à nossa volta
no nosso maremoto particular
estava sumindo
naquele buraco negro de loucuras
E, afunilando como um carrossel descontrolado
vemos a reta final.
Rubros, o sangue pressurisava cada veia
Uma agulha em brasa
atravessava nossos corpos unidos
E, como se fôssemos a última gota do mar
O redemoinho se anulou. Fim. Silêncio.
Suspensos no ar, o prelúdio do gran finale.
Um suspiro, o ar preso, o ápice da volúpia.
A sensualidade máxima.
Sumimos dentro daquela partícula insignificante
Aquela concentração de tudo
tudo que havia no nosso universo de amor
Enfim, dentro daquela densidade sufocante
O limite da pressão fora atingido
Tudo estancou e, enfim, explodiu
Naquele instante crítico
estávamos em meio ao big bang de nossa paixão
Tudo se amontoara num ponto
Que, teso, liberou toda aquela bela energia num estouro
Aquele mundo de inquietações corpóreas
Um oceano de prazer que fora sendo injetado e afunilado
A totalidade do êxtase havia se espalhado por todo o espaço sensível daquele momento
Em ondas avassaladoras de pulsações sanguíneas
Nosso corpo finalmente convulsionava, feliz
Em meio a esse turbilhão quente
Sentimos uma anestesia sair daquela agulha em brasa
Que queimava nossos corações
Todo um torpor fez-se sentir
Uma dormência espalhava-se por toda a parte
Tudo que borbulhava e pululava
agora se embriagava,
E, juntos, nos deliciávamos, exaustos
Silêncio, só restava o rastro do coração já desacelerante
O suor e o rubor eram as nossas marcas de um passado safado
De nossa recém vivida aventura.
A denúncia da nossa felicidade pura.
Então ficamos esparramados
Deixando que nosso corpo
se desvanecesse com os últimos espasmos
Derretendo, num bálsamo quente e perfumado
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