Vermelho, estático
Amarelo, ansioso
Verde, orgástico
Rápido o semáforo
Implacável major urbano
que pisca no vácuo
controlando carros invisíveis
um juiz ignorado.
Que segue julgando
enquanto os réus já se mataram.
Só lhe resta a folhinha
que, frágil, se debate em sua frente
sendo levantada e deitada
pelos ventos dos carros cegos.
que ignoram as ordens mudas.
Uma folha noturna
que capota sozinha
livre, sem linha
no asfalto duro
em seu trepidar escuro.
Ela,
Há quanto tempo esteve
enforcada num galho
até amarelar, tombar
e, ao vento,
sob rodas e sapatos rudes
dia e noite dançar?
Se essa folhinha está seca
e bóia no asfalto áspero
eu me lembro então,
de quando eu não lembrava
desta folha amarela
Eu marchava pelas ruas lá
outros marchavam pelas ruas acolá
e ela, atada nos galhos
só queria voar
Agora sentado neste banco noturno
esperando uma nave que nunca virá,
a folha amarela me olha do asfalto
e se arrasta, sorrindo, parada em meu tempo
E, se o tempo é só transformação
e o não-tempo é a não-ação
não existe mais tempo
neste estático momento.
se a folha já foi seiva,
se amanhã será pássaro
e se depois será terra.
Hoje ela é apenas
a humilde companheira.
Pois nem o pré nem o pós
figuram nessa minha cena.
O tempo se foi
e se preludia o retorno
mas agora, com a folha caída
em meio aos seus mil destinos:
suas memórias e rastros,
pra jamais lembrados,
mui menos notados,
e ainda o acaso que sorteia
os seus próximos passos,
vejo o tempo que esmorece,
e o relógio que s'esquece
de roletar nossa sorte
de sussurrar nossa morte.
Com essa viajante volante
dorminhoca solitária
sob a luz semafórica
da rua autoritária
Eu paro no tempo
não mais me importo
com os maus-elementos
ou com os carros vis
à caça d'atropelamentos
Só olho os veios
os capilares secos
quebradiças tabuinhas
fininhas madeirinhas
que balouçam e gangorram
sob uma brisa noturna
com o empurrãozinho
da brisa escura.
E ela parece assobiar
tranquila com seu futuro ignorado
tanto fazia, a folha cai, voa e some.
e ninguém lhe deu nome.
E se teimam segui-la
a danada despista
como fez-me agora,
sumiu-me da minha vista
levanto os olhos
e minha folhinha
no vento noturno se foi
calada, calminha
ser varrida por outros
ou beijada por loucos
enquanto eu, parado no tempo
imaginava os caminhos
e seus tenros galhinhos
que dia-a-dia eles varrem
e os perdem
num saco negro
com suas irmãzinhas
milhões de folhinhas
mortas
há de alguma estar viva?
pensei em guardar a folhinha
mas deixei-a voar
seria engaiolar,
sua liberdade privar,
ter o pássaro e matar.
Queria eu ser essa folinha, que pode voar sem medo para onde o vento a levar...
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