Fecho meus olhos
Me mudo de lugar
viajo, lhe invado o espaço
roubo tua frenteira
e você, como eu quis,
queria comigo
aquilo que eu fiz
Fico ali,
escondido do tempo
De olhos fechados
imaginando o sabor
do teu beijo sonhado
Vermelho, macio
suspiro bem fundo
pra acalmar meu coração
que desesperado
pergunta o porquê
de não ser bem beijado
Fico ali, no correr dos ponteiros
da minha escola triste
Fazendo sozinho, a minha alegria
Criando pra mim, o meu melhor dia
Imagino cada toque
de teu rosto de seda
as bordas úmidas, frias ao vento
e, lá dentro da sua boca rubra
um morno acolhedor
amortece meu beijo
E, bem pensado,
após soltarmos
como dois ímas forçados
paramos no ar, pertinho
e salivando, desistimos de desencontrar
e tornamos lívidos, a nos enroscar
ventava dentro de mim
um frio na barriga de ser tão feliz
E, não era só eu.
Abri meus olhos
e o que vi, você era aquela criança
que sorria, por ter ganhado
o amado presente
E, no fundo, era essa a minha
maior fantasia...
Pronto, nuvens me cercavam
todo o ar era leve, fresco
E, com tanta magia
com tudo acontecendo como num éden
Meus olhos molhados brilharam
e eu tentei falar
a declaração mais verdadeira já dita
que, engasgada, perdeu-se
na minha cabeça doída
Curvando-se pra fugaz covardia
Acordei com meu próprio som gutural
de uma garganta dormida e gripada
Meus olhos ofuscados esmagaram-se ao retornarem ao sol
meu lábios relaxados balbuciavam os sons agora perdidos
que desiludidos, talvez nunca retornem
minhas pupilas contraíam
E, a umidade acumulada em sua volta, escorria
e formava pequenos orvalhos sonolentos
Então eu lembrei de tudo
E que nada eu havia vivido
Encarei o real, o duro real
Tentei sentir aquele gosto doce
Mas minha boca seca,
se fingia de azeda
E meus labios rachados
se contraíram, lacrados
Me vendo então
naquele lixo de realidade
sem vontades
nem palavras
que mereciam ser cantadas
sem gostos
nem olhos
que mereciam ser amados
Retornei, fugidio, aos seus braços sonhados
tornei a me embebedar, com meus olhos fechados
Achei, então, minhas dengosas palavras
E lhe dei como mel, fresco das favas
E sorrindo, selei
aquele que,
pela lei há de ser,
o meu último beijo
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