segunda-feira, 23 de julho de 2012

Tosse ranzinza

Cof, cof, cof
O doente que tosse
Tuberculoso, apodrecido, um fardo denegrido
Escarra escarros fedidos
Pulmões vencidos
Sangue escorrido
Um corpo vazio
Um esqueleto sozinho
Uma carcaça nojenta de pele cinzenta
Asqueroso, não se olha no espelho, seus olhos secaram, seus cabelos caíram e sua tosse arranca
A pele da garganta
Um ralador respirado
Um ouriço agarrado
Sai cinza, a tosse ranzinza.
 Do miserável, na parada final
Da sua vida horizontal
Deitado em leitos marcados
Pelos morimbundos passados
Cof, cof, cof, segue tossindo o doente.
Sem casa nem asa
pra fugir dessas ruas
dessa rotina ingrata
Uma vida cansada
De ver a piedade
dos reis da cidade
De ser o coitado
de ser carregado

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