quinta-feira, 26 de julho de 2012

Conivência e lucidez

O fato que será narrado nas linhas seguintes, ocorreu-me já faz um tempo,uns 4 ou 5 meses, eu deduzo. Não se trata de nada excepcional, criativo ou novo, é apenas um fato junto a uma observação à cerca dele. Tentarei evitar divagar sobre o assunto sem ao menos introduzi-lo, o que poderia causar embaralhamento e as minhas divagações não ancorariam em nenhum sentido palpável. Não que tudo precise ter algum sentido, isso seria uma blasfêmia. Mas o tamanho da banalidade deste fato e a sutileza das próximas reflexões, me incitam a ser o mais transparente possível, para que o leitor, usando os óculos que eu uso, consiga enxergá-las. 
Numa tarde qualquer, após o almoço, eu fui caminhando para casa. No caso, eu estava morando em um prédio não novo, mas moderadamente luxuoso, próprio da elite de classe média alta de Belo Horizonte. Apartamentos de 4 quartos, dois elevadores, porteiro, o piso do andar térreo interno e do salão de festas é de granito branco, dentre outra especificações. Pois bem, ao chegar na portaria, me deparei com a empregada doméstica que meu pai contrara, chamada nana, uma mulher de ótimo astral, bom humor e bastante competente. Ignorando a coincidência, nós nos cumprimentamos simpaticamente e provavelmente eu devo ter perguntado onde ela estava e ela deve ter respondido banalmente. Aquele tipo de diálogo curto, que é quase uma convenção entre pessoas conhecidas, mas que não são íntimas, do qual eu iria me esquecer em 30 segundos. Geralmente, a falta de assunto depois destes diálogos causa um certo desconforto em mim, o silêncio é sincero demais.Ter uma conversa é quase uma regra, que acaba deixando constrangimento às vezes. O que ocorreu, foi que o diálogo não foi o prelúdio de nenhum silêncio constrangedor, pois a Nana tomara um caminho diferente do meu. Quando eu abri a porta de vidro para entrar no hall encoberto que me levaria ao elevador social, olhei para o lado para ceder passagem para a Nana, mas vi que ela virara à esquerda em direção à uma portinha que a levaria ao elevador de serviço. No momento eu estranhei, mas não fiz nada, ela não disse nada, ia ao mesmo lugar que eu mas tomara um caminho diferente. Claro que não foi para evitar qualquer ausência de conversa no ar, que levaria a um constragimento. Ela não é do tipo de pessoa que se constrange com isso, ou qualquer outra coisa mesmo. Eu tentei falar algo, mas sem pensar. "Nana... porque... vem por..." e ela olhou para mim sorrindo, como se nada houvesse de anormal, como se ela não tivesse entendido o que eu queria dizer. Enquanto eu tentava desvencilhar daquela estranheza, tentando chamá-la pra ir no elevador social comigo, a indiferença dela fez as minhas palavras vacilarem. Ela não iria desviar do caminho que toma em seu cotidiano apenas para me acompanhar, não seria só devido à coincidência de me encontrar na portaria, que ela iria mudar sua rotina, ela é automática, inconsciente. A minha também. Usei, da mesma forma, o elevador que sempre uso, o social. A reflexão não tem nada a ver com segregação social, ou com preconceito do próprio prédio, mas em relação ao fato deu ter achado o fato estranho,  mas ter concordado com essa 'anormalidade', seguindo tranquilamente o meu caminho. Eu tive a leve lucidez, ou talvez tenha sido enfático em algo inextente, posso ter forçado as vistas, ao ponto de criar uma ilusão. Mas, ignorando as mil possibilidades, encararei como 'lucidez' o meu sentimento naquele momento.

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