Nos tempos atuais convivemos com uma herança iluminista que moldou a nossa sociedade. A racionalidade científica tornou-se um ideal. Tudo (relacionamentos sociais, administrações pública e privada, dinâmicas de transporte, criações humanas, sistemas físicos e metafísicos, o estado, etc..) é projetado, em sua instância final e perfeita, para funcionar mecanicamente.
A ideia da precisão da máquina ultrapassou as engenharias. Um símbolo tosco disso é o recrutamento de engenheiros para administrar empresas. A lógica mecânica ganhou o status de utilidade máxima, tornou-se a lógica mais racional. A própria denominação "Racional" já problematiza essa minha reflexão. A alternativa, o caminho chamado de "racional" nos leva a entender, etimologicamente, que seja o caminho mais utilitário possível, o óbvio da funcionalidade perfeita. Como se fosse a característica de algo produzido com a máxima clarividência da mente humana, o ápice da nossa inteligência.
Mas não, a capacidade de criar esses sistemas encadeados e precisos, faz parte de apenas um tipo de racionalidade humana. Ela não resume a instância mais elaborada e benéfica de nossa racionalidade humana total. Essa racionalidade matemática é um viés técnico magnífico, que os homens extraíram da natureza à partir de nossas competências sensíveis. A mágica que nós fazemos com os númenos engenheiros são fundamentais para a magnificência humana, são essenciais para expandirmos nosso bem-estar e melhorar a nossa compreensão de mundo, mas não são tudo que temos para pensar.
O âmago do meu argumento reside no fato de a nossa inteligência ser muito mais profunda do que a capacidade de criar (ou revelar) sistemas mecânicos fechados e de viver dentro deles. O maior problema está nos nossos instintos, imperfeições, desejos, instabilidadse, despadronizações e metamorfoses, que impedem o funcionamento de um sistema racional no qual seríamos peças. Um perfeito exemplo disso é a burocracia fechada e enferrujada de grandes estados modernos.
É como criar um sistema estatal, encaixando peças humanas, e esperar um funcionamento perfeito dele, sem desvios de conduta, interferências de interesses pessoais, favorecimentos, etc. Essa ideia só daria certo se o homem fosse um robô.
Essa ideia, no caso, a confiança (na minha opinião é uma inocência por parte da população, por ser enganada por aqueles que desvirtuam o estado e a administração pública - os corruptos, poderosos influentes, lobistas - que se mantém no topo ao fazerem a população crer num funcionamento mecânico, perfeito e inquestionável da Burocracia estatal.) na perfeição desses sistemas-padrão pode ser vista por toda a sociedade. Como em livros de auto-ajuda, que criam caminhos-padrão para se atingir a felicidade ou então para se tornar um novo-rico e que, assim, censuram as particularidades de cada ser humana; Em correntes psicológicas que tratam o paciente a fim de tornar-lo ideal, ao invés de ajudá-lo a conhecer a si próprio e se aceitar socialmente ( Esses tratamentos surgem pela demanda moderna de idealização pessoal. O homem moderno não quer encontrar a sua própria essência, ele quer que sua essência seja aquela idealizada e perfeita. Ele busca uma terapia que que tenta reprogramá-lo a fim de torná-lo o sujeito perfeito e sincrônico); Em imperativos estéticos e suas estereotipagens; Em desejos turbulentos pelo consumo ideal, por estilos de vida que não conseguem ser vividos por todos os homens ao mesmo tempo. Todos querem se tornar as peças ideais do nosso sistema maquinal.
Vou agora, criar uma metáfora para devanear sobre os caminhos pelos quais essas tendências podem nos levar. Ao tentarmos criar esse perfeito quebra-cabeças com peças humanas que sempre mudam suas formas e cores, ou seja, nunca serão rígidas o suficiente para se encaixarem, enquanto humanas, surgem duas alternativas:
1)O quebra-cabeça se desfaz, por pura incompatibilidade e dá lugar a outra organização social das peças humanas, uma nova distribuição e interrelação dessas peças no mundo.
2)Ou então, o Quebra-cabeças sobrepuja a humanidade das peças. Desumaniza elas para encaixá-las no seu sistema perfeito, tornando-as, robôs, autômatos, marionetes, seres inflexíveis e orientados externamente.
No segundo devaneio, as almas humanas que mantiverem-se vivas em meio aos poderosos encaixes do Sistema de um Quebra-cabeças megalômano, viverão nas margens. Escondendo-se nas sombras dos edificios perfeitos e fugindo dos ex-humanos sedentos por sangue animal. Os sopros de vida restantes tentarão lutar contra a máquina, ou serão esmagados por ela. Eis o motivo do título.
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