O fogareiro azul me espera em casa
ironias do destino se o fogo não apaga
pois até de soprar nós já esquecemos.
Ele me espera há tantas almofadas de anos
que não lembro nem do seu preto e branco
E a minha velhinha
é a mesma adolescente
que arravanha as minhas costas
como grelhas latentes
e suas unhas cantavam uma bossa
de amor, de calor, de amor sem pudor
mas ninguém podia saber...
E as maçanetas, antes de girar,
já me lembram um frio de 1944
onde o pianista se fechava no quarto
e eu ficava só ouvindo os tristes bemóis
e à noite correndo de rubros faróis
E ainda dizem que eu nunca senti frio!
Bem nessa época que se gostava de milho!
...E eles choviam antes da pipoca
sobre as ricas, loucas cartolas
a disputar bilhar c'os flocos de neve...
E eu nunca vi a neve...
Não é saudosismo
se me permitem afirmar
É apenas aquela sensação
que vem de distância longa
como o barulho do mar
de dentro de uma concha.
É aquela sensação que dizem
que só sente o transviado
que nasceu no século errado
E uns poetas cobertos de fuligem...
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