terça-feira, 27 de novembro de 2012

Virulências inevitáveis

Algumas virulências
assombraram os meus sonhos
Os "para sempre", demências
sempre ditas em fé cega
mostraram-se só roncos
não os ouço adormecido
e me acordam adoecido
sempre para a triste constatação
que sonho é só ruminação
de vidas imastigáveis
livros incompletáveis
pretensões imensuráveis
promessas vazias como um olho de um cego
promessas inúteis como um homem com ego

Estranhas virulências
bateram minha cabeça
no travesseiro umidecido
pelas nuvens que eu quis soltar
mas que o sopro do despertar
congelaram em meu olho de vidro
Há tantas afogado em leite materno

fui cuspido
pelo asco da morte e sua foice.

fui despido
pelo grito da mórbida noite

Que jamais me esperará pra puxar o dia
jamais me esperará.

E eu ainda escalo o monte
para ver o sol nascer
Mesmo vendo tantos esqueletos chisparem imundos
em inútil queda
Mesmo vendo meus cabelos caindo junto
sem nenhuma festa
Mesmo escrevendo com fraco punho
este monte de merda.








O Caco

A água melada
Escorre
Chuveiro abaixo
E o vapor-fumaça
'scapole
Chuveiro acima
Os lábios d'água pincelando
o seu amor no banho

Mas é só invenção
O selo, na fatídica noite
de uma declaração.
Da vida vem o coice
Anos antes das águas
Das peles enrugarem molhadas
Das descobertas engraçarem o jovem
Dele descobrir que as paixonadolescenenites
morrem, botadas a pique
bem mais rápido que amores à primeira vista.

Que não há pedra que resista
às infinitas gotas
dos diamantes de moças.

Que há carros mais rápidos
do que as pernas inúteis
humanas.

Que só os reis são mágicos
e, as conversas, fúteis,
bananas.

E, desde então
olhar nos olhos
é crime sem perdão
o amor vira o juiz
e o banho, ilusão.






sábado, 24 de novembro de 2012

Rômulo, o Rato inquieto.


Rômulo, o rato contador de moedas
Percebeu que os queijos solares
Só voariam de volta aos céus
Se ele comprasse o equipamento necessário.
Tentou da gasolina ao cigarro
Mas afinal, a resposta fatal
Era muito mais simples do que um manual
De engenharia nuclear.
O rato foi ao cartório municipal
E foi-se chamar esquilo
Afundou o rabo em cola
e depois numa sacola
Recheada de pêlos fofos
Assim os queijos voltaram a decolar
Deixando para trás os mofos
Levando o ratinho ao paraíso secreto
Das núpcias nova iorquinas
E lá nessas esquinas
Rômulo enfim avistou o sagrado sofá de veludo vermelho
E as putas de cabaré.
Mas lá nada tinha de engraçado
Nem uísque com café
Lhe deixava embriagado.
Então ele pegou o queijo lunar e desceu de volta para a noite que sempre fora a sua casa normal.
E deixou os queijos solares para quem gostasse de ser especial.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Me complexo demais


Poetizações complexas demais
Surgem no meu poente descrente
Vindas das inverdades profetizadas
Por um gnomo pretensioso
Que vive em meu coração
Doido
Doído
Perdido
Afoito
Assaz descritivo
Sim descriativo
Men-ti-ro-so

Eu jamais escrevo o que sinto
Pois jamais sei o que sinto
Pois minto
Pra mim mesmo
Sem saber que estou mentindo
À ermo
Para a minha própria poesia
E só me lembro da minha primeira garota
Ela ria
Sigo então borrando a poesia toda
Dando tiro para tudo quanto é lado
Inventando a sétima face do dado
Pra minha vontade de rima
Numa luta de esgrima
Com espada de papel
Num inferno congelado
Emoldurado no céu

Andreia, acorda!


Andreia enlourava a rua nova iorquina enquanto o azul do céu fazia os prédios amaciarem suas pontas agudas. O mendigo caolho confundia o sol com o brilho dourado do esnobado penteado daquela mulher valente. Demasiado “ado”. Brilhado, enfeitiçado, pintado, falsificado, derramado sobre as costas bem emposturadas de Andreia. Ela caminhava elegante, puxando coleiras invisíveis. Os homens vinham atrás, esquecendo a reunião e o nó da gravata dentro dos taxis amarelos que esperavam em vão o sinal se abrir. O trânsito parava para Andreia desfilar. E ela bem gostava de desfiles. Mas apenas dos seus. O sucesso de outras mulheres atraentes provocava o emergimento de pequenas fumaças de rancor dos poros corporais de Andreia. Poros cuja umidade fazia os homens delirarem esquinas atrás.
Andreia fantasiava com seus lenços coloridos sendo despencados da sua média altura, em alguns séculos passados. Seriam tais lenços o motivo de uma grande fila noturna de fidalgos pretendentes na porta de seu palácio. Cada pretendente traria um dos seus lencinhos na mão e uma vida a entregar. Mas, no século presente, ela se limitava a obliquar os olhos bem esquinados e esguios aos flancos urbanos. Vendo o julgamento masculino, ela terminava por costurar um pecado sorridente na boca, nos lábios de maçã envenenada. Os dentes frios como a neve de um contos de fadas. Esfriados por uma podridão que escondia-se dentro de Andreia. Ela ensaiava diariamente o cultivo excessivo das suas fortalezas, cujos tijolos tão belos morriam de medo das chuvas dos olhos. Andreia precisava sempre da maçã vermelha para égorcizar a sua fragilidade paranoiense. Sempre o veneno.
Provocação era o bacharel de Andreia. Esconder era o seu PhD.  Bem protegida, seu recato sumia. Nada de rabo de olho, de cirandas com os quadris despercebidamente, nada de lenços ao acaso. A beldade tinha seus caprichos mais excêntricos. Dentro do vagão do Subway Nova Iorquino, ela postava-se de frente para a janela da porta, o que possibilitava total transparência ao exterior. Enquanto as escuridões subterrâneas dos túneis  trovoavam do lado de fora em veloz carreira, Andreia aguardava o seu momento. Com o decote bem aberto, escondido entre os ombros do casaco e o sorriso picante entre as madeixas louras da franja, ela fitava o seu reflexo na janela até a hora certa. Quando um outro trem emparelhava-se com o seu no submundo, a loira começava com as provocações. Andreia chamava a atenção dos homens através dos rápidos vidros e ficava lançando olhares ferinos, mordiscadas de lábios, menções para se envolverem em lençóis e outras múltiplas vontades sexuais.  
Neste rápido lapso de tempo Andreia podia, em total isolamento e segurança, fazer as suas travessuras. Ela também fazia caretas, cenas e  enfeites com a língua. Enquanto durasse o  corredor visual entre as janelas, Andreia ficava buscando os olhos sonolentos dos passageiros do trem adjacente. Após os vagões desviarem-se e sumirem no escuro, Andreia imaginava o próprio triunfo dentro das mentes daqueles espectadores anônimos.  Na realidade, a maioria das pessoas não tinha visto porra nenhuma, pois quando um trem corre momentaneamente ao lado de outro eles, naturalmente, não trocam miúdos, ignoram-se mutuamente, é banal demais para atrair olhares. Mesmo assim, Andreia, na sua cegueira, tinha sempre certeza que fora avistada e sentida. Para ela, as cabeças baixas e a ausência de reações significavam que os espectadores tentavam esconder o interesse nela para, assim, não a bajularem descaradamente. Andreia sorria-se, sabendo que as pessoas a queriam tanto, mas tanto, que até esforçavam-se para demonstrar o contrário. Quanta esperteza, Andreia.
Enfim, numa tarde vagabunda, Andreia exacerbava-se estranhamente nas janelas de um trem. Peculiarmente, a emparelhação das janelas durou mais do que o usual, por razões desconhecidas. Esta oportunidade atiçou as mais íntimas vontades da danadíssima loira. Ela já começava a insultar as pessoas  gratuitamente com gestos excêntricos e facetas ridículas. Andreia secretamente abrira os botões da camisa e mostrava a parte mais escondida dos seios. Sua pele ardia e o júbilo acendia seus pavios. Num dos atos, ela quis provocar infantilmente mostrando a língua. Péssima ideia, Andreia. A tragédia sucedeu-se quando a rosada estrutura foi ejetar-se para fora, como uma cobra cega.
Descuidadamente, a janela permitiu que a língua fosse longe demais. A provocação embriagava tanto a cautela de Andreia, que o perigo rondou perto demais. As rodas do trem adversário engancharam a sua língua de veludo. Inevitavelmente  a embolação foi rápida. Como um carretel, a língua enrolou-se firmemente no metal e Andreia voou para os túneis.
 O trem zunia mais rápido que uma bala, o trilho rugia e Andreia gania. Como uma pipa, ela era arrastada pelas rodas vorazes do trem. A dor consumia o corpo da beldade. E ela ricocheteava nas paredes pichadas que passavam como um filme acelerado. O sangue espirrava nas paredes e Andreia parecia um balão puxado no espaço por um foguete. Ia  esfolando no teto do túnel como uma locomotiva humana de ponta-cabeça. Os ventos da velocidade desgringolada arrebataram as roupas provocantes da garota e pela primeira vez ela foi desnudada.
Andreia gritava e chorava por socorro, mas sua língua emaranhava-se cada vez mais, moendo-se nos ferros enferrujados do trem, e o sangue já alagava o túnel. O trem corria com violência e as explosões elétricas fritavam Andreia. Ela olhava com desespero para as janelas vibrantes, esperando que alguém visse a sua agonia turbilhoada.  Foi quando Andreia percebeu os sombrios olhares de dentro do trem. As silhuetas enfileiravam-se pelas janelas, todas de olhos inexpressivos a observar o espetáculo sanguinolento. As faces eram todas iguais, ternos pretos. As mulheres de véu. Parecia que o trem seguia para o funeral mais aguardado de Nova Iorque. A garota esvoaçante implorava por socorro, sua língua agonizava.  O trem rugia e o vento espichava as pálpebras do maquinista demonizado.
As vozes respondiam num  coro grave de uivos: Uuuuuuuh! E agooooora Andreia, e Agooooora?
Os metais do trem chacoalhavam a febre no corpo de Andreia. O desespero culminava na sua suplicante garganta. Mas nada adiantava. Os espectadores não pregavam os olhos, e as bocas ovalavam desemocionadas. Aqueles seres desconheciam a dó e Andreia conhecia a dor.
Com a diminuição da velocidade do trem, o corpo judiado de Andreia perdeu altitude, e veio arrastando-se lateralmente aos trilhos, boiando sobre o rio de sangue que descera de sua língua tripudiada. Ao parar na estação,  as portas do trem abriram-se e o ir e vir dos sapatos pisotearam a desgraçada. Para que a moça nua e antigamente apetitosa não fosse novamente içada pelo trem, um faxineiro devidamente cortou a língua dela, bem rente à roda, para que a perda de carne fosse a menor possível.  O mebro rosa esticado, ao ter a tensão aliviada, rebobinou-se tal qual uma fita métrica descontrolada, calando enfim a cãibra da boca de Andreia
 Em seguida, o homem varreu a infeliz e pequenina criatura para a sua pá, depositando-a numa lata de lixo. A garota murchara tanto que passara a medir pouco mais que um palmo grande. Andreia encolheu-se com frio lá dentro do lixo, tapando o que podia da sua nudez.  A multidão de luto aliviou-se das suas corriqueiras preocupações, para reunir-se em torno da donzela encardida. Todos aqueles comensais foram velar, numa reunião escura e solene, a humilhação de Andreia. A menina soluçava, enquanto a chuva escorria pelo seu corpo e levava embora o sangue da amargura.

domingo, 18 de novembro de 2012

Josué Negrão ainda corre.




Os trintobrilhos armaram uma cilada para Josué Negrão. Misteriosas espionagens pairavam sobre os ombros do homem, enquanto ele esticava seus passos brutos pelas vielas amaldiçoadas do gueto. A favela era dele, e ele era da favela. Em suas mãos chispantes, os cabelos crespos de sua última desafeta emaranhavam-se. Ela era arrastada, como um boneco, de volta ao pó do qual todos nós viemos. “Quis demais crioula, diz que não aguento duas vezes, agora vai aprender a respeitar nego de dente preto lá no inferno, safada.” , setenciava Josué Negrão, a quem ninguém questionaria. Apenas os trintobrilhos o faziam. Espertos trintobrilhos. Coriscos trintobrilhos.
Feroz,  Josué ganhava chão. E atrás dele a morte lambia o sangue da crioula. Tudo era noite e silêncio. Os casais interrompiam o coito em seus barracos adjacentes ao escutar as passadas do tirano. “Lá vem ele, mui puto, faz silêncio mulher”.  Josué distribuía ali e acolá os seus pacotes sérios em troca de ouro. Pacotes muito sérios. Ninguém brincava com eles, eram negociados na surdina, sempre com muita malícia e com os devidos ares importantes de quem trata de obscuridades. Ai de quem não pagasse. Josué arrastaria pelas tripas, com um sorriso ferino emoldurando seus dentes pretos. Há muito ele perdera o coração. Aliás. Há muito ele jogara fora o coração, em troca dos seus pacotes sérios.
Mas algo interrompeu os supetões do crioulo louco. Um ruído espalhava-se como finas rachaduras pelo silêncio liso da noite. Soluços vindos de algum lugar espicharam a orelha de Josué Negrão - Cuidado crioulo. Lamentos vindos da infância desarmavam facilmente a armadura de Josué. Dobrando o cotovelo da viela, os barulhinhos se esparramavam pelos dedos do seu pé cascudo. Os músculos do homem afrouxaram e a cabeça da mulher arrastada quicou nas pedras do chão. Ele foi, como um sonâmbulo, vencer a esquina, ter com a armadilha dos trintobrilhos.
A luz solitária do poste iluminava uma pequena criança de cócoras. A noite pesava sobre o gueto. As escuridões fechavam os olhares. Josué só podia fitar o garoto, que afundava misteriosamente a cabeça entre os joelhos. Sim, mais de perto, era um garoto.  O pequeno soluçava seu abandono. A noite solitária assombrava-o. A isca boiava no beco da maldade. A cilada se complicava. E as coisas sérias se complicavam para o crioulo.
Josué Negrão, com os olhos lacrimejantes, esqueceu a sua alma rancorosa e chegou ao consolo. Totalmente ludibriado pela pureza infantil. Chegou ao invólucro dos contatos humanos mais finos. A bolha da empatia sincera. A noite suspendeu-se, o tenso suspense do contato físico. Os dedos cruéis de Josué chegaram perto da cabeça cabisbaixa do pobre soluçante. Enquanto o espaço se encurtava,  a lua despencava e trazia as estrelas consigo, como uma rede de pesca ajuntando as sardinhas medrosas.  As árvores fecharam os seus galhos enfolhados, abraçando o gueto amaldiçoado.  As chapas de zinco zumbiram os ventos tardios. Tensos, os ratos espremeram os olhos roendo as unhas. Tarde demais.  Josué encostou.
No súbito subir da cabeça da criança, os anjos caídos acordaram e as trombetas rebentaram-se no chão, em estampidos que substituiram o badalar dos sinos do juízo final. Faíscas jorrantes cobriram Josué Negrão, ele derretia diante da cara espelhada do moleque. Um vidro de fogo, onde Josué podia enxergar o seu próprio medo latente. Seus dentes esbranquiçaram-se e o sangue recolhia-se ao esconderijo do coração paralizado. O mundo exterior sumiu, a distração de Josué abortou-se. A farsa dos trintobrilhos ferrou o gatuno, o muambeiro, o maior traficante que já existira no gueto. O maior traficante de todos, que agora desfazia-se em covardias.
A face metálica da criança brilhava como prata recém forjada. Lisa, sem arranhões de desgosto. Engoliu os soluços. Os trintobrilhos então se aproximavam, seguindo os rastros das estrelas despencantes. Desciam em fogo, cintilantes, em uma névoa febril. Sua fumaça tóxica penetrava no cérebro de Josué. E sussurrava: “Corra, vadio, corra até o fim”.
A máscara da criança trincou-se e caiu, espalhando no chão as migalhas reluzentes. Restou o rostinho de uma criança. Os traços eram de Josué. Mas os olhos, os olhos mais profundos do que o gueto, eram de Madeleine. As faíscas ardiam a pele cascuda de Josué, tal qual a saliva sedenta de amor de Madeleine fizera antigamente.  “Josué, volta... E o menino, Josué? Volta amor, volta! Pra onde você foi, onde você estava?”. Gritavam os trintobrilhos. Indomáveis, impiedosos, eternos perseguidores. Os trintobrilhos já infestavam a rua com as suas luzes e gases paranormais. Seus brilhos pontilhavam-se através da fumaça densa. Aí Josué correu.
Correu como nunca, correu como as suas antigas presas corriam dele próprio. Mas a bala de Josué era sempre mais rápida. E os trintobrilhos também não perdoariam. Vinham de longe, de intensas, porém esquecidas, rebobinações do tempo. As pequenas lembranças de Josué voltavam à tona, para nunca mais submergirem.  E como eram assombrosas tais lembranças! De tanto amor encardido e vergonhas escondidas. De tanto orgulho de rei do gueto, agora ele fugia desesperado.
Os dentes de Josué já tinham caído, e ele corria sem preocupar-se com isso. Que se danem os seus dentes e o medo que eles metiam. Josué só queria fugir dos trintobrilhos que queimavam as suas costas nuas. Os dedos de Madeleine arranhavam carne viva.

Volta e meia os trintobrilhos sossegam. Acompanham lá de cima, como falcões, a carreira desesperada de Josué Negrão. Deixam ele ofegar, recuperar as forças, cicatrizar as queimaduras, imaginar-se livre. Mas é tudo diversão para os algozes. O dia já surgiu e morreu de novo, o gueto ficou para trás, junto com os pacotes sérios. E Josué Negrão ainda corre.



Sobre pessoas e poemas

Poemas voam ao céu
Pessoas caem no chão
Poemas vivem de mel
Pessoas vivem de pão

Tão sem solução
resolvo o problema
Receito ao patrão
comer um poema


Para a nova geração da graciosidade entre poetas, saudade dos antigos graciosos. Fere aos próximos minhas rudes palavras de poeta grossioso.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O tempo é um moinho

E as coisas antigas
tomam seu rumo de sempre:
As mesmas fofocas das tias,
as eternas fotos, a mente
do doutor de toga
que eriça o mesmo bigode
dos filmes velhos, a roda
de um semi-novo pagode,
substituto do samba.
Mas continua sendo moda,
e só me resta a corda bamba,
corda nem boa nem má,
moda aqui moda acolá,
fico suspenso no ar,
sem cair pra nenhum lado.
Nem espanha com touro.
Nem lisboa com fado.

Travestido de mouro,
sou o neutro embaçado,
o lixeiro calado.
Pra ver se não escolho nada,
ver se esquecem minha fala.


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A queda do louco

Admiro é o louco
que mastiga os contratos
e fuma os jornais.
Embriaga os fatos
que falam demais.

E sem orgulho
perde a coroa
engole o presente,
o futuro arpoa.

Pula de cima
no porvir do escuro.
Não coça a cabeça
pensando se é fundo

E vai abrir os braços branquelos,
o seu peito nu.

Na queda aos pregos
não tranca o cu.

De olhos fechados,
silêncio de quem,
beijou os carrascos.






segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Noite de um halloween azul

Pois a noite invade a cama
tudo é azulado
menos o teu lábio.

É a maçã que morde
meu peito explodido
no enlace forte
de teu pé, ardido.

Os uivos à rua,
os membros nossos
misturando azuis
nos lençóis dengosos
mais brancos
do que o que resta
da mordida
do furtivo abrir dos teus olhos.


E nem as duas vozes explicaram
madruga à fora
qual nova amora
brotava ali,
fugindo à norma
Azul, a noite a ti.


domingo, 4 de novembro de 2012

Afogo em ti

Esquecida
no fundo do aquário
minha vela queima
e o futuro previsto se finda
em remastigações da teima

Fecho os bronzes espelhados
do meu protetor solar
pros teus olhos derramados
que vem de um céu que eu nunca vi.

E a lâmina de ti
vai subindo
temerosamente,
a chama espicha
fazendo o discurso independente
e a Lava dos teus olhos
o faz também,
queimando, e sente.
O quê? Diz!
Desvia os olhos também?

Meu bronze, meu pranto
já é estanho
e derrete...
Que a noite se feche!

Sobe, me escala, me engana
proibido demais
pra nossa vida cigana
quente demais
pra nossa pele humana.

Dois filhos da vida
jogados na esquina
das inesperações
do baque!
Talvez ilusões,
um papel?
desamasse...

E sobes...
Me ergo, temo
submerso
você tremeu mas veio
tentemos, querida
em inglês
fugido?
Ou português?
Libido.

Os anos talvez
corram demais
pra ver
lágrimas retidas
poesias não escritas.

Perderemos de graça
a nossa bandeirada?

Não vai acontecer?
Esconderemos e diremos que ninguém viu?

Mas...Aconteceu.
Subiu.
Se for perder,
perdi.
A vela morreu
em ti.
Meu fogo
é teu.


sábado, 3 de novembro de 2012

Homenagem a meu irmão Bruno

Serelepe e esperta
a vovó a tem meta
falar para o bruno
achar o seu rumo

anda tao desorientado
o bochecha mimado

Sirene na casa
se afasta a asa
da mãe tão xingada

reclama da louça
quem lava é trouxa

da preguiça
da inercia fedida
e a bunda xadrez
escolhe o ouvido da vez